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terça-feira, 19 de março de 2013

Hipertensão arterial


A hipertensão arterial é, geralmente, uma afecção sem sintomas na qual a elevação anormal da pressão dentro das artérias aumenta o risco de perturbações como o AVC, a ruptura de um aneurisma, uma insuficiência cardíaca, um enfarte do miocárdio e lesões do rim, sendo apelidado por  «o assassino silencioso» porque, geralmente não causa sintomas durante muitos anos (até que lesiona um órgão vital).

Quando se mede a pressão arterial, registam-se dois valores. O mais elevado produz-se quando o coração se contrai (sístole); o mais baixo corresponde à relaxação entre um batimento e outro (diástole). A pressão arterial transcreve-se como a pressão sistólica seguida de uma barra e, em seguida, a pressão diastólica [por exemplo, 120/80 mmHg (milímetros de mercúrio)]. Esta medição seria lida como «cento e vinte, oitenta».

A pressão arterial elevada define-se como uma pressão sistólica em repouso superior ou igual a 140 mm Hg, uma pressão diastólica em repouso superior ou igual a 90 mmHg, ou a combinação de ambas. Na hipertensão, geralmente, tanto a pressão sistólica como a diastólica estão elevadas.

Na hipertensão sistólica isolada, a pressão sistólica é superior ou igual a 140 mmHg, mas a diastólica é menor que 90 mmHg (isto é, esta última mantém-se normal).

A hipertensão sistólica isolada é sempre mais frequente na idade avançada. Quase em todas as pessoas a pressão arterial aumenta com a idade, com uma pressão sistólica que aumenta até os 80 anos pelo menos e uma pressão diastólica que aumenta até aos 55 a 60 anos, para depois estabilizar-se e inclusive descer.

A hipertensão maligna é uma pressão arterial muito elevada que, se não for tratada, costuma provocar a morte num período de 3 a 6 meses. É bastante rara e produz-se somente em cerca de uma em cada 200 pessoas com hipertensão arterial, embora os índices de frequência mostrem variações em função de diferenças étnicas (maior frequência em doentes de raça negra), de sexo (sendo mais frequente nos homens) e de condição socioeconómica (com maior incidência em doentes de classe baixa). A hipertensão maligna é uma urgência médica.

Controlo da pressão arterial
A elevação da pressão nas artérias pode dever-se a vários mecanismos. Por exemplo, o coração pode bombear com mais força e aumentar o volume de sangue que expulsa em cada batimento. Outra possibilidade é que as grandes artérias percam a sua flexibilidade normal e se tornem rígidas, de modo a não poderem expandir-se quando o coração bombeia sangue através delas. Por esta razão, o sangue proveniente de cada batimento vê-se forçado a passar por um espaço menor do que o normal e a pressão aumenta. Isto é o que acontece aos idosos cujas paredes arteriais se tornaram grossas e rígidas devido à arteriosclerose. A pressão arterial aumenta de forma similar na vasoconstrição [quando as artérias minúsculas (arteríolas) se contraem temporariamente pela estimulação dos nervos ou das hormonas circulantes]. Por último, a pressão arterial pode aumentar se se incrementar o afluxo de líquido ao sistema circulatório. Esta situação verifica-se quando os rins funcionam mal e não são capazes de eliminar sal e água em quantidade suficiente.

O resultado é que o volume de sangue aumenta e, como consequência, aumenta a pressão arterial.Pelo contrário, se a função de bombeamento do coração diminui, se as artérias estão dilatadas ou se se perde líquido do sistema, a pressão desce. As modificações destes factores são regidas por alterações no funcionamento renal e no sistema nervoso autónomo (a parte do sistema nervoso que regula várias funções do organismo de forma automática).

O sistema nervoso simpático, que faz parte do sistema nervoso autónomo, é responsável pelo aumento temporário da pressão arterial quando o organismo reage diante de uma ameaça. O sistema nervoso simpático incrementa a frequência e a força dos batimentos cardíacos. Produz também uma contracção da maioria das arteríolas, mas, em contrapartida, dilata as de certas zonas, como as dos músculos, onde é necessário um maior fornecimento de sangue. Além disso, o sistema nervoso simpático diminui a eliminação de sal e de água pelo rim e, como consequência, aumenta o volume de sangue.

Deste modo, produz a libertação de hormonas  que estimulam o coração e os vasos sanguíneos.
Os rins controlam a pressão arterial de vários modos:
-  pressão arterial aumenta: aumenta a eliminação de sal e de água, o que faz descer o volume de sangue e normaliza a pressão arterial.
- pressão arterial diminui: os rins reduzem a eliminação de sal e de água; em consequência, o volume sanguíneo aumenta e a pressão arterial volta aos seus valores normais.

Dado que os rins são importantes para controlar a pressão arterial, muitas doenças e anomalias renais elevam a pressão arterial.

Sempre que, por qualquer causa, se verifique um aumento da pressão arterial,
desencadeia-se um mecanismo de compensação que neutraliza e mantém a pressão a níveis normais. Portanto, um aumento do volume de sangue bombeado pelo coração que tende a aumentar a pressão arterial faz com que os vasos sanguíneos se dilatem e que os rins aumentem a eliminação de sal e de água, o que tende a reduzir a pressão arterial. No entanto, em caso de arteriosclerose, as artérias tornam-se rígidas e não podem dilatar-se, e por isso a pressão arterial não desce aos seus níveis normais. As alterações arterioscleróticas nos rins podem alterar a sua capacidade para eliminar sal e água, o que tende a aumentar a pressão arterial.

Causas
Para cerca de 90 % das pessoas com pressão arterial elevada, a causa é desconhecida. Essa situação denomina-se hipertensão essencial ou primária. A hipertensão essencial pode ter mais de uma causa. Provavelmente, uma combinação de diversas alterações no coração e nos vasos sanguíneos produz a subida da pressão arterial.

Quando a causa é conhecida, a afecção denomina-se hipertensão secundária. Entre 5 % e 10 % dos casos de hipertensão arterial têm como causa uma doença renal. Entre 1 % e 2 % têm a sua origem numa perturbação hormonal ou no uso de certos fármacos, como os anticoncepcionais orais (pílulas para o controlo da natalidade).

A obesidade, um hábito de vida sedentária, o stress e o consumo excessivo de álcool ou de sal são, provavelmente, factores de risco no aparecimento da hipertensão arterial em pessoas que possuem uma sensibilidade hereditária. O stress tende a fazer com que a pressão arterial aumente temporariamente, mas, de um modo geral, regressa à normalidade uma vez que ele tenha desaparecido. Isto explica a «hipertensão da bata branca», na qual o stress causado por uma ida ao consultório do médico faz com que a pressão arterial suba o suficiente para que se faça o diagnóstico da hipertensão em alguém que, noutros momentos, teria uma pressão arterial normal. Julga-se que, nas pessoas com esta tendência, estes breves aumentos da pressão causam lesões que, finalmente, provocam uma hipertensão arterial permanente, inclusive quando o stress desaparece. No entanto, esta teoria segundo a qual os aumentos transitórios da pressão arterial podem dar lugar a uma pressão elevada de forma permanente não foi demonstrada.

Sintomas
Habitualmente, a hipertensão arterial é assintomática, apesar da coincidência no aparecimento de certos sintomas que muita gente considera (erradamente) associados à mesma: cefaleias, hemorragias nasais, vertigem, ruborização facial e cansaço.
Embora as pessoas com uma pressão arterial elevada possam ter estes sintomas, eles também podem aparecer com a mesma frequência em indivíduos com uma pressão arterial normal.

No caso de uma hipertensão arterial grave ou de longa duração que não receba tratamento, os sintomas como cefaleias, fadiga, náuseas, vómitos, dispneia, desassossego e visão esfumada verificam-se devido a lesões no cérebro, nos olhos, no coração e nos rins.


Às vezes, as pessoas com hipertensão arterial grave desenvolvem sonolência e inclusive coma por edema cerebral (acumulação anormal de líquido no cérebro). Este quadro, chamado encefalopatia hipertensiva, requer um tratamento urgente.

Diagnóstico
A pressão arterial determina-se depois de a pessoa ter estado sentada ou deitada durante 5 minutos. Uma leitura de 140/90 mmHg ou mais é considerada alta, mas o diagnóstico não pode basear-se numa só medição. Às vezes, inclusive várias determinações elevadas não são suficientes para efectuar o diagnóstico. Quando se regista uma medição inicial elevada, deve determinar-se de novo e depois mais duas vezes em dias diferentes, para se assegurar de que a hipertensão persiste. As leituras não só indicam a presença de hipertensão arterial, como também permitem classificar a sua gravidade.

Quando se tiver estabelecido o diagnóstico de hipertensão arterial, habitualmente avaliam-se os seus efeitos sobre os órgãos principais, sobretudo os vasos sanguíneos, o coração, o cérebro e os rins. A retina (a membrana sensível à luz que reveste a superfície interna da parte posterior do olho) é o único lugar onde se podem observar directamente os efeitos da hipertensão arterial sobre as arteríolas. Julga-se que as alterações na retina são semelhantes às dos vasos sanguíneos de qualquer outra parte do organismo, como os rins. O grau de deterioração da retina (retinopatia) permite classificar a gravidade da hipertensão arterial.

As alterações no coração detectam-se com um electrocardiograma e um ecocardiograma, devendo o doente realizar uma Monitorização Ambulatória da Pressão Arterial (MAPA),  que vai permitir ao médico ter uma noção de como a pressão arterial do doente em questão se comporta durante as sua atividades diárias normais.

As lesões iniciais do rim detectam-se através de uma análise da urina. A presença de células sanguíneas e albumina (um tipo de proteína) na urina, por exemplo, pode indicar a presença de tal afecção.

É, igualmente, necessário procurar a causa da pressão arterial elevada,pois quanto maior for a  pressão arterial e mais jovem for o doente, mais aprofundada deve ser a pesquisa da causa. A avaliação inclui radiografias e estudos dos rins com isótopos radioactivos, uma radiografia do tórax e determinações de certas hormonas no sangue e na urina.

Prognóstico
Quando a pressão arterial elevada não é tratada, aumenta o risco de se desenvolver uma doença cardíaca (como a insuficiência cardíaca ou um enfarte de miocárdio), uma insuficiência renal e um AVC (acidente vascular cerebral) numa idade jovem. A hipertensão arterial é o factor de risco mais importante de AVC e é também um dos três factores principais de risco de enfarte do miocárdio, juntamente com o hábito de fumar e os valores de colesterol elevados. Os tratamentos que fazem descer a pressão arterial elevada diminuem o risco de AVC e de insuficiência cardíaca. Também diminui o risco de enfarte, embora não de forma tão clara. Menos de 5 % dos doentes com hipertensão maligna sem tratamento sobrevivem mais de um ano.

Tratamento
A hipertensão essencial não tem cura, mas o tratamento previne as complicações. Devido ao facto de a pressão arterial em si mesma não produzir sintomas, o médico procura evitar tratamentos incómodos, trabalhosos ou que interfiram com os hábitos de vida. Antes de prescrever a administração de fármacos, é recomendável aplicar medidas alternativas.

No caso de excesso de peso e de pressão arterial elevada, aconselha-se reduzir o peso até ao seu nível ideal. Deste modo, são importantes as alterações na dieta em pessoas com diabetes, que são obesas ou que têm valores de colesterol altos, para manter um bom estado de saúde cardiovascular em geral. Se se reduzir o consumo de sódio para menos de 2,3 g ou de cloreto de sódio para menos de 6 g por dia (mantendo um consumo adequado de cálcio, de magnésio e de potássio) e se se reduzir o consumo diário de álcool para menos de 750 ml de cerveja, 250 ml de vinho ou 65 ml de whisky, pode não ser necessário o tratamento farmacológico. É também muito útil fazer exercícios aeróbicos moderados. As pessoas com hipertensão essencial não têm de restringir as suas actividades se têm a
sua pressão arterial controlada. Por último, os fumadores deveriam deixar de fumar.
É aconselhável que as pessoas com pressão arterial elevada controlem a sua pressão no seu próprio domicílio. Essas pessoas provavelmente estarão mais dispostas a seguir as recomendações do médico em relação ao tratamento.

Tratamento farmacológico
Em teoria, qualquer pessoa com hipertensão arterial pode conseguir controlar-se dado que se dispõe de uma ampla variedade de fármacos, mas o tratamento tem de ser individualizado. Além disso, é mais eficaz quando ambos, doente e médico, têm uma boa comunicação e colaboram com o programa de tratamento.

Diversos tipos de fármacos reduzem a pressão arterial através de mecanismos diferentes. Por isso, alguns médicos costumam utilizar um tratamento escalonado. Inicia-se com um fármaco ao qual se juntam outros quando for necessário. Também se pode efectuar uma aproximação sequencial: prescreve-se um fármaco e, se não for eficaz, interrompe-se e administra-se outro. Ao escolher um fármaco, consideram-se factores como: a idade, o sexo e a etnia do doente, o grau de gravidade da hipertensão, a presença de outras perturbações, como diabetes ou valores elevados de colesterol, os efeitos secundários prováveis (que variam de um fármaco para outro) e os custos dos fármacos e das análises necessárias para controlar a sua segurança.

Habitualmente, os doentes toleram bem os fármacos anti-hipertensivos que se lhes prescrevem. Mas qualquer fármaco anti-hipertensivo pode provocar efeitos secundários. Deste modo, se estes aparecerem, dever-se-á informar disso o médico para que ajuste a dose ou mude o fármaco.

Fonte: Manual da Merck

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